Os torcedores que acompanham o dia a dia do América-RN se depararam com a presença de um jogador com características semelhantes a um dos principais atacantes do futebol brasileiro. A forma física e o jeito de correr em campo surpreendem até os companheiros de treino. Há menos de um mês em Natal, onde realiza um trabalho de recondicionamento físico por conta de seguidas lesões que o afastaram do futebol por quase um ano, o atacante Elandio Vidal de Souza, de 29 anos, mesmo com poucas aparições no cenário nacional, fala que a aparência não é a única coisa em comum com o famoso jogador.
Elandio é o irmão mais velho do atacante Hernane, jogador do Flamengo e conhecido pela torcida rubro-negra como “Brocador”. A diferença entre os dois é de um ano e seis meses, mas é o mais novo quem passa conselhos ao mais velho. Visto o parentesco familiar, Elandio já recebeu o apelido de “Broquinha” pelos atletas do América-RN e mostra disposição durante os treinamentos para chamar a atenção da comissão técnica, em especial do treinador Oliveira Canindé, e assinar contrato com o Alvirrubro.
Diferente do irmão famoso, Elandio não se firmou em nenhum dos clubes pelos quais já passou - seis no currículo - seja por deficiência técnica, seja por constantes lesões. A necessidade de ganhar dinheiro e bancar as próprias contas quase o tiraram do futebol. Contudo, o atacante encara a oportunidade de treinar no América-RN, clube que disputa a Série B do Campeonato Brasileiro deste ano, como um nova chance na carreira. A força para romper os obstáculos está na mãe e nos irmãos, que o apoiam todos os dias.
Nascido em Bom Jesus da Lapa, cidade do interior da Bahia, Elandio sempre jogava bola com os dois irmãos mais novos, Hernane e Neilândio. Quando tinha 9 anos, se mudou para São Paulo para acompanhar o tratamento médico da mãe. Foi aí que a ideia de se tornar jogador de futebol ficou mais forte. Anos depois, ele começou a carreira no Jaboticabal e chegou a disputar campeonatos locais, mas sem sucesso.
Um ano depois, o atacante foi contratado pelo Elosport, da cidade de Capão Bonito, e mostrou que tinha faro de gol. Em cinco jogos, marcou cinco gols e se destacou na equipe, mas uma lesão o afastou do time e causou a sua demissão.
- Quando estive no Elosport, era um clube com boa estrutura e consegui mostrar um bom trabalho. Fiz vários gols, mas, por conta de uma lesão muscular, fiquei muito tempo sem jogar e os diretores me mandaram embora - lamenta o atacante.
Em 2010, Elandio iniciou uma vida de andarilho no futebol brasileiro. A primeira chance fora foi na cidade de Pau dos Ferros, que fica a 400 km de Natal. O atacante veio para a disputa do Campeonato Potiguar e integrou o time do Centenário Pauferrense. Naquele ano, o irmão de Hernane enfrentou os dois clubes de Natal, América-RN e ABC. O jogador lembra das dificuldades que teve que enfrentar, com campos ruins e o clima seco do interior do Rio Grande do Norte.
- Foi uma fase difícil na minha vida. Cheguei a jogar contra o próprio América-RN e depois contra o ABC. Mas lá no Centenário, passei por dificuldades por morar numa cidade que fazia muito calor. O campo que servia para treinos e jogos era ruim, com um gramado muito seco - recorda.
Depois de jogar no Rio Grande do Norte, o atacante voltou para o interior de São Paulo e passou por Paulista de Jundiaí e Marília, até se encontrar com o irmão no Mogi Mirim. A parceria nos treinos durou pouco tempo, devido a uma pubalgia, lesão que se caracteriza com dores na região do osso do quadril, que tirou Elandio do futebol por quase um ano. O jogador recebeu a ajuda dos familiares e do empresário de Hernane, que conseguiu um clube em Ribeirão Preto para o tratamento.
- Tive várias lesões musculares, que, por serem mal tratadas, não curavam da forma ideal. A última (lesão) que eu tive fiquei quase um ano parado, que foram no músculo adutor do lado direito e na região do púbis, que eu acredito que sejam as piores lesões para um jogador de futebol. Deu um desânimo muito grande, mas a minha família me apoiou e graças a Deus, continuo nessa luta dia a dia. Um amigo me indicou um clube em Ribeirão Preto e em duas semanas, trabalhando forte, fiquei bom - disse Elandio.
HERNANE: EXEMPLO NO FUTEBOL
O cuidado entre os irmãos é tão grande, que Elandio se emociona ao falar de Hernane. Sem poder atuar devido a uma fratura na região lombar, o "Brocador" está há quase um mês fora dos gramados. Para o jogador, o irmão famoso serve de inspiração para toda a família e um exemplo para carreira de jogador de futebol. A única chance que tiveram de jogar juntos no Mogi Mirim foi suficiente para alimentar o sonho de um novo capítulo.
- Ninguém sabe como será o nosso futuro, mas quem sabe um dia eu possa jogar com o meu irmão. Seria a tabelinha perfeita para as vitórias - conta.
Questionado sobre qual jogador da atualidade é o verdadeiro camisa 9 do futebol brasileiro, Elandio disse que Hernane é a inspiração para muitos garotos no país. Mesmo não enfrentando uma fase favorável, o Brocador tem chances de voltar ao gramado até o fim do mês. Na torcida, o irmão mais velho vê o mais novo como exemplo.
- Eu me inspiro muito nele e na forma em que se mostra dentro de campo. Ele está fazendo um bom trabalho, agradeço muito a Deus por isso, me inspiro nele e espero seguir os passos dele - almeja.
CHANCE NO MECÃO
Em Natal desde o dia 27 de março, onde realiza um trabalho de recondicionamento físico no América-RN, Elandio contou que foi para a cidade depois de uma conversa com o amigo e empresário de Hernane, Paulo Pitombeira, que é representante do atleta. Sem chances na carreira, o jogador por pouco não deixou a bola de lado, mas foi aconselhado pelo amigo.
Por ser representante de alguns jogadores do atual elenco americano, como o volante Dener, o meia-atacante Rafinha e o atacante Alfredo, a aproximação com os dirigentes do Mecão foi mais fácil para o empresário, que enviou o atacante para Natal. Elandio quer mostrar ao técnico Oliveira Canindé que pode ter uma chance no time.
- O empresário do meu irmão perguntou se eu queria continuar, porque eu estava quase largando o futebol e não estava conseguindo nada. Ele ligou para os diretores do América-RN e me enviou para cá, para que eu possa voltar ao futebol. Espero fazer e mostrar um bom trabalho para chamar a atenção do treinador e da diretoria. Nós já conversamos e ele (Oliveira Canindé) se mostrou interessado em saber de onde eu tinha vindo, dos clubes que joguei e pediu para que eu mantivesse o foco e o trabalho físico. Espero que ele esteja me observando - confia o atacante.
Do atual elenco alvirrubro, Elandio guarda a amizade com o volante Val, por conta dos anos em que atuaram juntos no Mogi Mirim, e do meia-atacante Rafinha, que se destacou em jogos do time sub-20 do São Paulo e ganhou a admiração do atacante. A relação com outros jogadores do elenco americano pode ajudar a permanência de Elandio no América-RN, mas o atacante quer fazer por merecer a contratação.
- Estou fazendo um belo trabalho, treinando forte todos os dias e, se o professor (Oliveira Canindé) optar pelo meu trabalho, vou estar 100% dedicado ao clube para uma nova jornada na minha vida - concluiu.
GLOBOESPORTE
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