Atualmente não há lugar mais próspero em teorias da conspiração do que a
internet. Rivalidade entre partidos políticos, teses terroristas,
profecias, polêmicas no esporte, artistas dados como mortos que estariam
vivos... Tudo se espalha com alguns cliques, e sem qualquer fundamento
ou bom senso para atestar a veracidade das informações. Mas a prática de
enxergar planos maquiavélicos em tudo já existia em 1998 (bem antes
disso, também), quando o acesso à rede mundial de computadores era
limitado e a passos de cágado. Não faltam explicações paralelas para o
episódio que marcou a final da Copa do Mundo daquele ano, entre Brasil e França, que jogava em casa e venceu por 3 a 0, conquistando assim seu primeiro título.
Para quem não se lembra, o Brasil divulgou a escalação titular para a
decisão sem Ronaldo. O atacante, artilheiro da seleção no torneio,
seria substituído por Edmundo. A primeira justificativa era de uma lesão
no tornozelo. Mudou depois para um problema estomacal. A seleção
brasileira, treinada por Zagallo, não foi a campo fazer aquecimento,
deixando o ambiente ainda mais esquisito. A meia hora do apito inicial,
uma nova escalação foi divulgada, com Ronaldo confirmado.
Logo
no início da partida, o atacante dividiu uma bola com o goleiro
francês Barthez e, com a trombada, foi ao chão. deixando os colegas de
seleção assustados. Em campo, Ronaldo estava moribundo. Parecia com
sono, pálido, incapaz. De herói, acabou virando o símbolo de um time
apático, batido com facilidade na final do Mundial que consagrou Zidane.
Surgia ali um mistério: o que aconteceu com Ronaldo?
Oficialmente, Ronaldo teve uma crise nervosa antes da final
da Copa de 1998. O lateral-esquerdo Roberto Carlos, seu companheiro de
quarto, revelou anos depois que o atacante chorou muito antes de passar
mal, sentindo-se pressionado pela responsabilidade de ser a principal
esperança brasileira na busca por mais um título mundial - na época ele
tinha apenas 21 anos. Socorrido ainda no hotel pelos médicos da CBF, ele
foi levado a um hospital e passou por exames cardiológicos e
neurológicos. Recebeu alta e, mais calmo, seguiu para o estádio, disse
que estava bem e pediu a Zagallo para jogar. Deu no que deu. A partir
disso, várias teorias, com ou sem fundamento, surgiram.
Há uma
corrente que duvida que tenha sido uma "simples" crise nervosa
pré-final. Fala-se em ataque epilético, convulsão provocada por seguidas
infiltrações de xilocaína para aliviar possíveis dores no joelho, e até
em envenenamento provocado por um cozinnheiro francês do hotel onde a
delegação se hospedara.
Já
outro grupo desconfia que a pressão por disputar uma final de Copa não
era o único motivo que levou Ronaldo ao colapso nervoso. O jogador
estaria incomodado com os comentários de que sua namorada, a modelo
Susana Werner (hoje mulher do goleiro Julio César), estaria tendo um
caso na França com o jornalista Pedro Bial. Ela estava hospedada na casa
que o atacante alugou para os familiares na Europa, e isso também lhe
trazia aborrecimentos, já que seus pais, recém-separados, se queixavam
um do outro a todo momento para Ronaldo. É o que dizem.
Mas uma
teoria da conspiração que se preze precisa envolver dinheiro, o
interesse de grandes corporações, corrupção, farsa. Com isso, veio a
"revelação": o Brasil perdeu para a França de propósito. Com dinheiro
injetado pela Nike, a CBF embolsou muitos milhões e pagou aos jogadores a
premiação que seria dada em caso de título, em troca do silêncio. O
esquema garantiria o título mundial aos franceses em casa, e em troca a
seleção brasileira teria caminho facilitado ao penta mundial em 2002,
além da garantia da Fifia de que o país organizaria uma Copa
futuramente.
Veio
2002, Copa no Japão e na Coreia do Sul. Seleção brasileira na final,
vitória por 2 a 0 sobre a Alemanha, com direito a falha do goleiro
Oliver Kahn em um dos gols de Ronaldo. Cinco anos depois, a Fifa escolhe
o Brasil como sede do Mundial de 2014. Coincidência?
Há quem ache
que não. O fato é que a misteriosa derrota para a França na decisão de
1998 gerou até CPIs (Comissões Parlamentares de Inquérito), inflamadas
também pelas teorias da conspiração, na Câmara dos Deputados e no
Senado. Chamado para depor em uma delas, Ronaldo foi questionado sobre o
que levou a seleção brasileira ao fracasso no
Estádio Saint-Denis. “Porque a França marcou três gols e o Brasil,
nenhum", respondeu.
Talvez tenha sido apenas isso mesmo. Ou não.
IG
Nenhum comentário:
Postar um comentário