Em dois atos, um no segundo andar do Planalto e outro ao pé da rampa do palácio, a presidente Dilma Rousseff se despediu do poder e partiu para o período de limbo político. Antes de sair, insistiu que não cometeu crime de responsabilidade, reforçou que é vítima de um "golpe", atacou a legitimidade de Michel Temer e prometeu seguir a luta pelo mandato.
– É a maior das brutalidades que pode ser cometida contra qualquer ser humano: puni-lo por um crime que não cometeu. Não existe injustiça mais devastadora do que condenar um inocente.
Dilma acompanhou do Palácio da Alvorada, no início da manhã desta quinta-feira, o Senado aprovar a instauração do seu processo de impeachment. Por volta das 9h45min, chegou ao Planalto, onde aguardou a informação oficial do afastamento. Recebeu a intimação do senador Vicentinho Alves (PR-TO) e, afastada por 180 dias do mandato, foi ao Salão Leste do palácio para um pronunciamento.
Ex-ministros da presidente, exonerados pela manhã, entraram primeiro. Militantes presentes gritavam "golpistas, fascistas, não passarão". Deputados e senadores do PT e de partidos da que ficaram contrários ao impeachment também aguardaram a chegada da presidente. De blazer branco, Dilma encarou o microfone e as câmeras.
– Quero mais uma vez esclarecer os fatos e denunciar os riscos de um impeachment fraudulento, um verdadeiro golpe. O que está em jogo no processo de impeachment não é apenas o meu mandato. O que está em jogo é o respeito às urnas, à vontade soberana do povo brasileiro e à Constituição.
Emocionada, a presidente lembrou que foi eleita por 54 milhões de brasileiros, destacou avanços dos 13 anos de governos petistas. Cercada por mulheres, negou que os decretos de créditos de suplementares, editados sem o aval do Congresso, sejam crime de responsabilidade e disse confiar que vencerá o julgamento final no Senado.
– Posso ter cometidos erros, mas não cometi crimes – disse.
– Não tenho contas no Exterior, nunca recebi propina, jamais compactuei com a corrupção.
Dilma reclamou de sofrer "sabotagem" no seu governo, com objetivo de "tomar à força" um mandato conquistado nas urnas.
– Eu já sofri a dor invisível da tortura, aflitiva da doença e, agora, sofro mais uma vez a dor inominável da injustiça. O que mais dói nesse momento é a injustiça, é perceber que estou sendo vítima de uma farsa jurídica e política.
A presidente pregou união na luta contra o "golpe" e destacou ter orgulho de ser a primeira mulher a presidir o Brasil.
– Vou lutar com todos os instrumentos legais de que disponho para exercer meu mandato até o fim, até o dia 31 de dezembro de 2018.
Encerrado o pronunciamento, Dilma saiu pela entrada administrativa do Planalto, abaixo da rampa, para se encontrar com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Diante de militantes e movimentos sociais, repetiu parte do discurso e atacou Eduardo Cunha, presidente afastado da Câmara. Disse que ele agiu por vingança diante da negativa de lhe garantir a impunidade no processo por quebra de decoro no Conselho de Ética.
– Eu não sou mulher para aceitar esse tipo de chantagem.
Sobre o vice Michel Temer, agora presidente em exercício, negou a legitimidade de um governo sem votos e voltou a lhe lançar o rótulo de conspirador.
– São duas palavras terríveis: traição e injustiça. São talvez as mais terríveis palavras que recaem sobre uma pessoa.
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