quinta-feira, 24 de setembro de 2015

‘Mister Brau’ faz boa estreia e conta com elenco de talentos

Lázaro Ramos e Taís Araújo (Foto: Reprodução)Estreia de anteontem na Globo, “Mister Brau” conjugou o bom texto de Jorge Furtado com a direção-geral competente de Maurício Farias e um elenco de primeira. Substituiu “Tapas & beijos” mantendo a qualidade do que foi apresentado na faixa nos últimos cinco anos, mas sem grandes surpresas. Sua antecessora extraía humor e emoção do sonho de casamento de duas solteironas em Copacabana. Aqui, o universo da ação não se desenrola num ambiente tão particular, nem sua escolha expressa alguma grande sacada. É, mais uma vez, a televisão retratando o mundo da música popular e espremendo graça das diferenças de classe e culturais. Porém, “Mister Brau”, para ser bem justa, faz isso com muita eficiência.

A trama é puxada por pequenos conflitos correndo num arco dramático que abraça tudo. Tudo se passa num condomínio de classe média alta na Barra da Tijuca. É para lá que se mudam um músico com a carreira estourada, Brau (Lázaro Ramos), e sua mulher, Michele (Taís Araújo). A chegada deles provoca fricções com a vizinhança. O casal promove festas o dia inteiro, na piscina e no jardim, com som alto e uma alegria que se traduz em muitos decibéis. O distinto par que mora ao lado, Andréia (Fernanda de Freitas) e Henrique (George Sauma), desesperado, pensa em vender a casa. Chegam a receber a visita de um corretor, mas até ele é afugentado ao se aproximar da varanda e perceber a barulheira ao lado. Em contraste com os recém-chegados, os antigos moradores são bem-nascidos e falam baixo. Ele, um jovem advogado CDF que trabalha no escritório do sogro (Daniel Dantas). Ela, uma dondoca de manual. Há uma certa ironia do texto ao assumir tão abertamente esses clichês, como sempre nos bons roteiros. Na estreia, os dois casais se desentendem, para em seguida acabarem emaranhados em acordos inesperados: Brau contrata Henrique para ser seu advogado. Rola uma certa eletricidade sexual entre o quarteto. Até que uma convivência possível se estabelece. Essa desarmonia é a alma do seriado.

Uma observação merece ser feita e ela não se aplica apenas a esse seriado, mas diz respeito a outros programas da televisão. Esse retrato da classe C emergente que vai às festas de Brau já não está em sintonia com a realidade do país, que entrou em recessão. A uma certa altura, para explicar a presença desses convivas no condomínio de luxo, Henrique diz à mulher que “a renda nas favelas equivale ao PIB do Uruguai” (na verdade é o da Bolívia, segundo dados de 2013 divulgados pelo FMI). Ao escutar isso, o espectador tem a impressão de estar ouvindo uma frase velha. O sentimento que fica é o de uma série planejada há muito tempo e que perdeu, em parte, sua atualidade.

Por outro lado, “Mister Brau” tem excelente elenco — Taís e Lázaro fazem comédia com muito brilho sempre — e canções originais, o que é um valor que o público saberá apreciar. Trata-se de uma produção com bom acabamento. Fora a abertura, que é uma graça.

Patricia Kogut

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