Na arquibancada do estádio Hernando Siles, um torcedor do Strongest
exibia sua fantasia: um lençol branco de fantasma, cobrindo o corpo, com
a inscrição "altura". Nada mais foi do que o espelho da partida. Na
temida altitude de 3.660m de La Paz, o Atlético-PR sucumbiu ao cheio de
fôlego Tigre boliviano, que se fez valer da velocidade e do maior pulmão
para vencer por 2 a 1 e avançar às oitavas de final da Libertadores.
O Furacão, que se classificaria com um empate, despede-se da competição
com nove pontos, em terceiro lugar no Grupo 1. O time da casa,
completando 106 anos de existência, assegurou a segunda vaga, com dez
pontos. A primeira ficou com o argentino Vélez Sarsfield, que somou 15
ao bater o já eliminado Universitario (um ponto), do Peru, por 1 a 0.
Miguel Ángel Portugal lançou Adriano no ataque desde o começo da
partida. Buscava decidir nos contra-ataques, aliando a velocidade de
Marcelo ao faro de gol e experiência do atacante. E o Imperador, se
ainda exibe má condição física, teve estrela ao empatar a partida no fim
do primeiro tempo - não marcava um gol havia dois anos. Mas os gols de
Manoel (contra) e de Soliz decretaram a vitória dos bolivianos, que no
segundo tempo mostraram condição física muito maior.
Ainda fora de forma, Adriano volta a marcar, depois de dois anos, mas Furacão perde (Foto: Reuters)
Adriano marca
O Strongest fez valer a velha cartilha dos bolivianos em La Paz:
correria na altitude de 3.600m logo no começo para cansar o adversário. O
Furacão cometeu um erro ao tentar entrar no jogo dos anfitriões, ainda
que explorando mais os contra-ataques. Até a metade do primeiro tempo,
chegou a ter superioridade na partida. Mas depois, não fosse o goleiro
Weverton e a estrela de Adriano, poderia ter saído em grande
desvantagem, e não com o empate por 1 a 1.
Com Adriano no meio da área, centralizado, pesado, sem condição física
de atuar numa partida em que o pulmão fala mais alto, a esperança recaía
sobre a velocidade de Marcelo. Era dele que deveria sair o passe
decisivo para o Imperador - ou Ederson - apenas escorar. Faltava, no
entanto, a boa ligação com o ataque. Mirabaje sumiu. Weverton, por
várias vezes, tentava a linha direta buscando Adriano, que nas duas
primeiras aparições cabeceou mal, para fora, um centro da esquerda, e
foi travado pela zaga boliviana num giro para bater a gol.
Dos 25 minutos em diante, o Strongest passou a fazer a bola girar
melhor do meio para as laterais, onde Pablo Escobar e Reynoso partiam em
velocidade. Os dois exigiram boas defesas de Weverton, que ficou cara a
cara com o segundo. O gol do Strongest se aproximava. E o goleiro,
herói até então, se afobou na saída de gol em um escanteio. A bola
voltou para a área, e Manoel, de cabeça, fez contra, aos 38. Parecia que
o Furacão sairia da primeira etapa com uma derrota, mas a estrela de
Adriano brilhou ao concluir um passe na medida de Marcelo, aos 47.
Segundo tempo
Adriano saiu de campo trocando camisa com seu marcador, o brasileiro
Jefferson Lopez. Mas acabou aí a boa vizinhança. O Strongest voltou com
tudo. Portugal mexeu logo aos oito minutos, tirando Ederson para pôr
Zezinho. O atacante saiu insatisfeito, mas o técnico parecia adivinhar o
que estava prestes a acontecer. Aos nove, Soliz avançou nas costas de
Natanael e, num meio centro meio chute, fez 2 a 1, desempatando a
partida.
O Furacão dava sinais de cansaço. Cleberson tropeçou, e Reynoso só não
marcou porque Weverton fechou o ângulo e salvou. Adriano andava em
campo, e Miguel Ángel Portugal fez outra alteração, ao trocar o apagado
Mirabaje pelo garoto Marcos Guilherme. O Strongest, muito mais inteiro,
perdia mais um gol - Escobar mandou para fora.
Mesmo cansado, o Atlético-PR se animou e foi para cima. Natanael soltou
uma bomba que assustou a torcida do Strongest. Aos 39, Crislan entrou
no lugar de Paulinho Dias. O Furacão partia para o tudo ou nada. O
Strongest fez sua cera. Cristaldo, que havia entrado no lugar de Soliz,
caía e rolava no gramado. Escobar perdeu gol feito aos 47, mas não fez
falta: o clube aniversariante, 20 anos depois, está de volta às oitavas.
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