20 anos. Não parece. Remexo as fichas na minha memória onde
registrei as marcantes experiências vividas naquela época da F1 e logo
compreendo que as classificadas na letra S, especificamente as do
envelope Ayrton Senna, não me cobram grande empenho para localizá-las.
Estão intensamente vivas, quase se apresentam a mim.
As
manipulo com a mente e sinto uma combinação de emoções: começa com um
distante toque de tristeza, mas imediatamente superado por uma sensação
de resignação, altivez e, por mais contraditória que pareça, até mesmo
de conforto. Espíritos elevados como o de Senna confortam os que se
lembram dele. E sua mensagem é tão palpável que absorvemos rapidamente
sua energia positiva. Sim, claro, presentíssima!
Cerca de seis anos depois de Senna dar sequência a sua obra em outra
esfera, aí pela temporada de 2000, redigi uma série de textos relatando o
que vi naquele fim de semana no circuito Enzo e Dino Ferrari, em Ímola,
e, depois, nos dias seguintes, na porta do Instituto Médico Legal de
Bolonha ou no tocante voo que trouxe o seu corpo para o Brasil.
Capítulo a capítulo
Tinha uma cópia desses textos comigo e a usei como base para escrever o
que apresento a seguir. Você vai viajar comigo pelos vários capítulos
da extensa obra, quase um minilivro. E, espero, se emocionar.
Vamos ver juntos como o acidente que matou não um ídolo de milhões de
brasileiros, mas um herói nacional, na curva Tamburello, às 14h17 do dia
1.º de maio, não foi um episódio isolado, mas o desfecho de uma
história que, a rigor, começou um ano antes, quando Frank Williams,
surpreendentemente, concordou com a mudança radical do regulamento da
F1.
Sua equipe, àquela altura, impunha
vantagem técnica à competição semelhante a da Mercedes na atual
temporada e da Red Bull de 2010 até o ano passado. A proibição da
maioria dos recursos eletrônicos adotada pela FIA em 1994 deixou os
carros extremamente instáveis. Um ano antes, Senna definira o modelo
FW15C-Renault da Williams, campeão do mundo com Alain Prost, como "carro
do outro planeta". Sua McLaren-Honda era muito mais lenta.
Senna era necessário
Mas Frank Williams sabia que precisava de um piloto como Senna para
enfrentar outro grande talento que já distribuía cartões de visita
poderosos: Michael Schumacher. No fim de 1993, contratou quem queria. Os
dois realizavam seu sonho: Frank Williams e, principalmente, o
brasileiro.
O carro do outro planeta, do
projetista Adrian Newey, o mesmo que enorme responsabilidade tem na
recente hegemonia de Sebastian Vettel, seria finalmente seu. Senna
iniciou, no começo de 1994, os testes com o modelo FW16-Renault da
Williams. E não acreditou. Fora dos microfones, no autódromo do Estoril,
em Portugal, afirmou: "Esse carro é 'inguiável'". Adrian Newey errara
na primeira versão do FW16.
20 anos do GP de San Marino de 1994. Tão distante e tão próximo,
ainda. Minha trajetória como jornalista especializado em F1 começou no
GP do Brasil de 1987 e a partir de 1991 passei a ir a praticamente todas
as corridas. No ano que vem, completarei meu 400º GP. Quando estou nos
autódromos, tenho por vezes a impressão de que Senna vai sair a qualquer
momento dos boxes ou motorhomes das equipes e, então, poderemos
conversar no paddock.
Para mim, e para tantos
com quem converso, Senna ainda está aqui. Essa, talvez, seja a maior
prova do significado do seu imenso carisma, seu talento, sua
grandiosidade como homem. Não temos a sensação de que trabalha agora em
outro plano. O mundo vai lembrar, na quinta-feira, dia 1º de maio, os 20
anos da sua passagem.
Senna é uma figura
viva, atuante, deixou algo para todos nós. Discutimos em vários idiomas
seu imenso legado, não só esportivo, mas, principalmente, filosófico. E
provavelmente eterno. Essa história tem 12 capítulos. Você pode navegar
por eles por AQUI:
FONTE UOL
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