A medicina começa a investigar com maior rigor a influência das
diferenças entre os sexos nas doenças cardiovasculares e seus
desdobramentos. Na semana passada, um time de cientistas do Reino Unido,
da Holanda e da Austrália anunciou que as mulheres diabéticas têm 44%
mais probabilidade do que homens com a mesma condição de apresentar
problemas nas artérias que irrigam o coração, as coronárias – o que pode
levar à ocorrência de infarto e insuficiência cardíaca. O dado é fruto
de uma meta-análise de 64 estudos. Ao todo, as informações contidas
nesses trabalhos correspondem a 50 anos de observação de um contingente
de 858.507 pessoas e 28.203 incidentes coronarianos. É o mais amplo
levantamento já feito sobre o tema.
A grande questão agora é identificar as razões dessa diferença.“Existem
várias suspeitas, mas até agora nada foi comprovado”, diz a
cardiologista Maria da Consolação Vieira Moreira, diretora científica da
Sociedade Brasileira de Cardiologia e professora da Universidade
Federal de Minas Gerais. Os autores do levantamento que constatou o
risco mais elevado especulam que a diabetes parece prejudicar mais o
metabolismo das mulheres. Por isso, quando iniciam o tratamento, elas já
enfrentam maiores sequelas. Isso também explicaria o fato de as
mulheres terem mais dificuldade para alcançar as metas do tratamento.
“Mais estudos são necessários para determinar os mecanismos reais
responsáveis pela diferença no risco coronariano relacionada à
diabetes entre os sexos”, disse Rachel Huxley, da Universidade de
Queensland, na Austrália, uma das autoras da pesquisa. O estudo foi
publicado na revista “Diabetologia”.
CÉREBRO
Segundo a médica Maria da Consolação, diabéticas têm mais
chance de sofrer AVC do que homens com a enfermidade
Segundo a médica Maria da Consolação, diabéticas têm mais
chance de sofrer AVC do que homens com a enfermidade
Há de fato grande urgência em saber o que eleva o perigo para o coração
feminino. “Uma em cada três mulheres no mundo morre por problemas
cardiovasculares. É a doença que mais tira vidas femininas”, diz a
cardiologista Maria da Consolação. Para piorar, elas também enfrentam um
risco maior do que os homens de sofrer acidentes vasculares cerebrais.
Se forem diabéticas, por exemplo, estudos indicam que o risco é 25%
maior do que em homens na mesma condição. “Acima dos 55 anos, o risco se
torna altíssimo”, diz a médica. As descobertas estão fomentando o
debate. “Se a mulher diabética é de maior risco, é de se pensar em um
tratamento mais agressivo para elas. Mas, por enquanto, não existe
nenhuma recomendação estabelecida nesse sentido”, diz Maria da
Consolação.
ISTO É
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