quarta-feira, 23 de julho de 2014

'Império' prova que novelas ainda têm força

Vanessa Giácomo e Chay Suede em 'Império' (Foto: TV Globo/João Cotta)
Na estreia de “Império”, anteontem, no horário nobre da Globo, Aguinaldo Silva deu uma mostra de seu amplo domínio do trabalho de autor de novelas. Não fugiu das delícias nem das exigências do gênero. Ao contrário, esbanjou habilidade na construção de uma ótima história. Vimos aqueles extremos clássicos que, bem aplicados, compõem e temperam uma boa trama.
Uma mocinha ingênua (Eliane) sendo operada pela irmã malvada (Cora); um protagonista vencedor que veio do nada, brasileiro batalhador (José Alfredo); e uma espécie de agente da fortuna que atravessa seu destino (Sebastião Ferreira/Reginaldo Faria). Aliado a tudo isso, Aguinaldo não deixou de lado a inevitável reiteração, mas ela ficou diluída, quase imperceptível, no enredo que correu ágil e atraente. Assim, apresentou e qualificou seus principais personagens, mas driblou o didatismo e fez isso com elegância. Cora, foi dito claramente, é “má”. O chefe do garimpo, além de “mau”, é “imprevisível”.
“Império”, foi possível notar nos primeiros minutos, é uma história com ambição, uma saga. A direção de Rogério Gomes acompanhou esse registro épico. Vimos sequências no Monte Roraima, do alto de pedras escarpadas, e muitas tomadas aéreas — lindas locações, incluindo a Baía de Guanabara. Gomes cumpriu sem dificuldade seu maior desafio: produzir cenas grandiloquentes sem cair no precipício do exagero que comprometeria a estética e a credibilidade. Pelo contrário, seu bom gosto contribuiu para o ótimo primeiro capítulo. A direção teve assinatura (algumas das sequências lembraram muito “A teia”), mas se manteve a serviço da dramaturgia, que é o mais importante sempre.
Marjorie Estiano, a vilã Cora da primeira fase, se impôs como o grande destaque da noite. Mas, importante dizer, seu trabalho não sobressaiu por causa de um elenco fraco. Pelo contrário, todos estiveram bem. Começando por Alexandre Nero, pronto para um protagonista, passando por Chay Suede, uma gratíssima surpresa, Vanessa Giácomo, a mocinha sem sal (não é uma tarefa fácil) e Thiago Martins, o bronco traído. Ficou clara a preocupação em conectar os flashbacks ao presente. Funcionou bem tanto pelo aspecto mais objetivo, da semelhança física entre os atores, quanto do ponto de vista da preparação, da sintonia do gestual.
Na sequência final, vimos um resumo do capítulo cheio de ação, com Regina Duarte prometendo mundos e fundos ao protagonista depois de ele admitir que, para chegar até Genève (e não Genebra, um detalhe folhetinesco daqueles que o público adora), “perdeu um amor, matou um homem e enterrou um amigo”. Não foi pouco para uma estreia.
patricia kogut

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