segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Estudo americano relaciona exercícios na gravidez com menor pressão arterial da criança


Enquanto março não chega, o barrigão não impede que Fernanda Esteves frequente, de quatro a cinco dias por semana, uma academia de ginástica. Aos 37 anos, a oncologista está grávida de sete meses de sua primeira filha, Helena. Assim foi também com a personal trainer Shanna Adderley, de 36 anos, que, um dia antes de a pequena Gisela nascer, há cerca de seis meses, “chutava uma bola de futebol na praia”.

Além do gosto pela atividade física, ambas têm em comum uma coleção de advertências e reprovações ouvidas de desconhecidos, que as criticam por se exercitarem grávidas. Mas um estudo da Universidade de Michigan (MSU, na sigla em inglês) surge como mais uma prova de que não estão fazendo nada de errado — pelo contrário. A pesquisa, publicada no “Journal of Sports Medicine and Physical Fitness”, mostra que se exercitar ao longo da gravidez pode reduzir as chances de o bebê ter hipertensão arterial, fator-chave para a saúde cardiovascular.

O autor do trabalho e professor de cinesiologia da MSU, James Pivarnik, e sua equipe avaliaram 51 mulheres ao longo de cinco anos com base na atividade física que praticavam, como correr ou caminhar ao longo da gravidez e no pós-parto. Em um seguimento do estudo, eles descobriram que o exercício regular em um subconjunto dessas mulheres, especialmente durante o terceiro trimestre da gestação, se traduziu em pressão arterial consideravelmente menos alta em seus filhos.

— Isso mostrou que o exercício durante os períodos críticos de desenvolvimento pode ter mais de um efeito direto sobre o bebê — afirma Pivarnik.

Crianças cujas mães se exercitaram exibiram uma pressão arterial sistólica significativamente mais baixa entre os 8 e os 10 anos de idade. Segundo os pesquisadores, esse fenômeno está ligado à chamada hipótese de origem fetal. A teoria sugere que, se algo extenuante acontece com uma mãe e o feto, isso terá impacto sobre a saúde futura da criança.

PARA COMEÇAR, ALGO LEVE

Isso não significa, é claro, que uma mulher historicamente sedentária deva sair correndo por aí tão logo descubra estar grávida. O correto, obviamente, é que a atividade seja leve, no caso de uma prévia falta de condicionamento.

O médico especialista em reprodução humana e obstetra Flávio Oliveira ressalta que, apesar de o estudo não ter investigado o motivo da relação entre exercícios e pressão arterial futura, o resultado positivo para o bebê pode se dar pelas endorfinas produzidas quando as mulheres fazem algum esporte. Ao ser liberadas na circulação sanguínea uterina, essas substâncias permitem que a criança tenha uma melhor oxigenação. Assim, Oliveira indica fortemente a prática a suas pacientes:

— Uma caminhada de 30 a 40 minutos diariamente é algo ótimo. No entanto, ao andar, a mulher tem que prestar muita atenção no batimento cardíaco, que deve estar na faixa de 130 a 140 bpm. Ela deve atentar também para a temperatura do corpo e tomar líquido em abundância. 

Fernanda investe em uma variedade ainda maior. De musculação a aula de zumba, a futura mãe passa de uma a duas horas alternando aparelhos e salas na academia que frequenta e garante que o exercício melhora muito o inchaço natural do processo. Já a americana Shanna, que mora há três anos no Rio, conta que até subiu a pé ao Cristo Redentor quando estava com cinco meses de gravidez.

— Estava preocupada, imaginando que não seria capaz de fazer certas atividades, mas o corpo da mulher é muito forte — diz a personal trainer, que complementa: a constante movimentação mantinha a dor e o estresse longe, algo que Fernanda também percebeu.

Os exercícios físicos levam, ainda, a outros benefícios, lembra o obstetra Antonio Paulo Stockler, como a manutenção do peso no pós-parto, o bem-estar, o controle da glicemia e a prevenção do diabetes. Ele acrescenta que, ao fazer musculação, a mulher reforça o músculo das coxas, o que ajuda no parto normal, ao mesmo tempo em que algumas atividades auxiliam contra as possíveis dores na coluna.

— Atividades na água geralmente são as que mais recomendamos, já que facilitam na manutenção da temperatura da grávida, e o peso da barriga acaba sendo amenizado — pondera Stockler.

Os dois obstetras destacam que, em todas as atividades em que as futuras mães resolverem se aventurar, orientação e acompanhamento de um profissional são indispensáveis. Exercícios que impactem a barriga, como escaladas, ou que acarretem risco de queda, como passeios de bicicleta, devem ser evitados. Alguns casos de incompetência do colo uterino ou de risco de parto prematuro também devem ser estudados com cuidado.

REPOUSO, SÓ PARA DOENTES

Enquanto muitos acreditam que, no primeiro trimestre, a mulher deve ficar em repouso, os médicos garantem que nada a impede de fazer atividades leves. Uma das vítimas das opiniões que não foram solicitadas, Shanna contou que amigos e até estranhos lhe diziam que ela entraria em trabalho de parto precoce e que “deveria ficar no sofá”. No entanto, nos três primeiros meses, a nova-iorquina com filha carioca aproveitava a vista do horizonte do mar e percorria toda a praia de Copacabana ou Ipanema:

— Além disso, porque tenho mais de 35 anos, os médicos alertavam para complicações com a gravidez. Mas tudo foi excelente. Tanto eu como minha bebê éramos e somos saudáveis. Acredito, sim, que isso tenha ocorrido por que sou ativa.

E, depois que o neném chega, o ideal é não parar. Atividades físicas aeróbicas são aconselhadas. Stockler esclarece que a orientação de exercícios no pós-parto vai depender também da técnica usada:

— Por exemplo, se tiver sido cesariana, esportes que envolvam o abdome devem sem evitados. Se tiver sido normal, serão sugeridos exercícios para o períneo, como o famoso Kegel.

GUIA BÁSICO

De ponte: Deitada de costas sobre a cama, contraia o glúteo e eleve o tronco enquanto inspira. Em seguida, volte lentamente à posição inicial, garantindo que a parte de cima das costas toque o colchão antes da de baixo, enquanto expira. 

Alongamento de isquiotibiais: Esse exercício é altamente indicado para a dor lombar. Deite-se de costas e mantenha uma perna com o joelho quase estendido. O próximo passo é puxar o pé em sua direção. Mantenha por cerca de trinta segundos e troque de perna.

Alongamento de glúteos: Também deitada de costas, traga um joelho para perto do peito e segure por trinta segundos. Troque de perna.

Para os pés: Sentada na beira da cama, com as mãos apoiadas no colchão, movimente os pés em todas as direções: flexão, extensão e rotação. Isso previne edemas e mantém o tônus muscular.

OGLOBO

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