segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Pesquisa inédita revela os efeitos da violência na vida das crianças


As crianças estão sujeitas à violência todos os dias, até nas próprias casas. O repórter Marcelo Canellas teve acesso à uma pesquisa reveladora, que mostra os efeitos da violência na vida das crianças brasileiras.
O que é ter 8 anos e se arriscar só porque está brincando na calçada? Na primeira vez que uma universidade brasileira fez um estudo sobre violência ouvindo crianças tão pequenas e com tanta profundidade, o resultado chocou.
Financiada por uma fundação holandesa, uma equipe de cientistas da PUC do Rio Grande do Sul ouviu, durante dois anos, 540 crianças, a maioria entre 6 e 8 anos de idade, e também seus pais, irmãos e outros parentes.
Ao todo, 2.889 pessoas de 15 favelas e cortiços em três capitais, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo, foram entrevistadas.
A pesquisa comprovou que a violência urbana repercute dentro de casa. A maioria absoluta das mães que veem alguém apontando arma de fogo, sempre ou quase sempre, admite punir severamente seus filhos pequenos, sempre ou quase sempre.
O castigo vem em primeiro lugar como método de correção, mas não só aquele de sentar a criança em uma cadeira ou proibi-la de ver televisão. Uma menina de seis anos está acostumada à punição física.
Menina: Ela bota aquele caroço de milho e feijão e, por cima, ainda arroz. E me bota.
Marcelo Canellas: Você fica como? De joelhos?
Menina: É. Isso dói paca.
Bater no filho é o segundo método mais usado pelos pais e ao contrário do que se pensava, não é nem o pai nem o padrasto quem bate mais. A mãe aparece em primeiro lugar, depois, a avó.
Quando os pesquisadores perguntaram às crianças qual a principal forma de violência na rua, a maioria, nas três cidades pesquisadas, deu a mesma resposta: alguém sendo levado pela polícia.
Para os pesquisadores, há uma consequência perversa em ações arbitrárias do Estado: a criança se confunde e já não vê mais diferença entre atitude de policiais e bandidos.
Mas quem protege uma menina de 8 anos do trauma que sofreu ao ver um homem cair baleado diante dela? Reduzir os assassinatos seria suficiente?
A pesquisa comprova também que nas famílias em que um ciclo escolar se completa, seja o Ensino Fundamental ou Médio, os pais batem menos nos filhos. “Quando você se educa, vai à escola, você aumenta as suas expectativas de mudar de vida, de melhorar de vida. Em uma ação para reduzir a violência, tentar convencer de que não pode bater é perda de tempo porque isso os pais já sabem que não leva a nada, temos que ensinar como fazer ”, diz Hermílio Santos, cientista social da PUC/RS.
Segundo a pesquisa, 99% das mães acreditam que bater não resolve os problemas e muitas nem sabem porque batem nos filhos.

G1

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Pesquisar este blog

Postagens populares